Desde a tarde desta sexta-feira, 19 de setembro, bispos, presbíteros e lideranças pastorais da Igreja no Paraná estão reunidos no Centro Social e Pastoral Shalom Dom Olívio, em Foz do Iguaçu (PR), para o encontro: “Conversa Sinodal e Propostas Pastorais inspiradas na Amoris Laetitia: um olhar sobre o cuidado com as famílias”. O evento se estende até o domingo, 21, quando será concluído com o almoço.

Foto: Alice Oliveira

O tema central é assessorado pelo prof. dr. Diogo Pessoto, leigo da diocese de São José dos Pinhais, que conduz os participantes em uma reflexão profunda sobre “A perspectiva antropológica segundo a Amoris Laetitia”.

Uma reflexão teológica e prática

Em sua fala, o professor destacou que a proposta do encontro é unir fundamentação teológica e prática pastoral:

“A gente está aqui nesse encontro formativo dos bispos, presbíteros, lideranças aqui do Regional Sul 2 da CNBB, tratando especificamente de um tema que se desdobra em dois elementos. Estamos abordando a exortação apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco numa perspectiva antropológica, mas também numa perspectiva do cuidado pastoral com as famílias. Ou seja, o que está na base teórica, teológica da Amoris Laetitia, mas como isso pode ser traduzido na prática pastoral, como as nossas lideranças, agentes da pastoral familiar, presbíteros, bispos e demais lideranças podem, a partir dessa base, contribuir para o cuidado pastoral das famílias”.

Pessoto ressaltou que a reflexão é urgente em um tempo marcado pelo individualismo e pelo esvaziamento das relações:

“Quando a gente fala de família, a gente está falando de uma realidade que não é só social, mas que implica também o agir da Igreja. Falar hoje de família não é falar só de como ser pai, mãe ou filho. É falar de como relacionar-se com quem está próximo e transbordar isso para o nosso relacionamento cultural e social. Na Igreja, que é comunhão, somos família de Deus e, portanto, chamados a nos relacionar como família na comunidade”.

A escolha do tema e sua relevância

Segundo o assessor, a opção dos bispos pelo tema está em sintonia com os rumos da Igreja no Brasil e com o pontificado de Papa Francisco e Papa Leão XIV:

“Essa iniciativa dos bispos do Paraná está altamente alinhada com o trabalho que a Igreja do Brasil já vem realizando e agora, sobretudo, com a perspectiva pastoral do Papa Leão XIV, que vem afirmando a importância das perspectivas de comunhão e unidade. E qual é o núcleo de unidade do ponto de vista eclesial e social? É a família. Portanto, a escolha dos bispos reflete uma opção pastoral de uma Igreja que quer ser próxima, cuidadora, samaritana, inclusiva e sinal do Reino de Deus”.

Dez anos da Amoris Laetitia: novos olhares

A exortação apostólica Amoris Laetitia, publicada em 2016, completa dez anos em 2026. Para o professor, este é um momento propício para superar as polêmicas iniciais e aprofundar o verdadeiro sentido do texto:

“O capítulo oitavo, logo após sua publicação, gerou uma certa polêmica, porque, na visão de alguns leitores, Francisco estaria relativizando a doutrina da Igreja acerca do acesso aos sacramentos por parte de casais em nova união ou em situações irregulares. Mas, na verdade, não é isso. A grande pedra de toque do capítulo 8º se situa em torno de três verbos: acompanhar, discernir e integrar. Isso não tem nada a ver com relativização da doutrina, mas com o acompanhamento das realidades concretas de cada família para encontrar juntos um caminho de integração na comunidade.”

Para ele, o amadurecimento da reflexão é sinal de que a Amoris Laetitia está sendo redescoberta:

“Esses dez anos parecem ser marcados não pela discussão polêmica, mas pelo reconhecimento de que existe um querigma da família, uma boa nova que deve ser anunciada — não só por palavras, mas no cuidado pastoral.”

Confira a fala completa sobre o tema no vídeo abaixo: 

Missa encerra o primeiro dia de encontro

As atividades do dia foram encerradas com a celebração da Eucaristia, que foi presidida pelo bispo de Ponta Grossa (PR) e presidente da Comissão Vida e Família da CNBB, dom Bruno Eliseu Versari; ladeado pelo bispo auxiliar de Curitiba e membro da Comissão Vida e Família, dom Reginei José Modolo; e pelo bispo de Foz do Iguaçu, dom Sergio de Deus Borges.

Dom Bruno iniciou sua homilia, agradecendo a todos os participantes que acolheram o convite dos bispos para participar desse encontro. “Quando nós deixamos as nossas coisas para cuidar das coisas de Deus, Deus envia os seus anjos para cuidar das nossas coisas. Penso nas famílias que vocês deixaram em casa, para estar aqui rezando, pensando, relfetindo sobre nossa caminhada pastoral, sabendo do desafio que é trabalhar com as famílias. Então, obrigado famílias por esse tempo e essa dedicação que vocês dão à Igreja”, disse o bispo.

Ele recordou também aos participantes que a Amoris Laetitia, que é a base do tema do encontro, não é um documento qualquer, mas sim um documento digno de fé. Dom Bruno partilhou ainda a preocupação que a Igreja do Brasil vive quanto à Pastoral Familiar, em termos de desafios na preparação dos jovens para o sacramento do matrimônio e com aqueles que vivem na realidade de uma nova união. “Nós temos em vocês uma esperança muito grande, que podemos dar passos significativos e firmes para ajudar os jovens na preparação ao matrimônio e também para acompanhar as famílias em nova união”, afirmou ele.

O encontro segue no sábado e domingo com a continuidade da reflexão do tema central, paineis temáticos com bispos e momentos de partilha, segundo a metodologia da Conversa Sinodal, e a elaboração de propostas pastorais. O objetivo é fortalecer o cuidado com as famílias no Paraná, à luz das orientações do magistério da Igreja e das realidades concretas de cada diocese.

Karina de Carvalho Nadal – Jornalista da CNBB Sul 2

LITURGIA DIÁRIA

Últimos Posts