De 25 a 28 de setembro, Manaus (AM) acolheu representantes de todo o Brasil para o 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom), realizado no Centro de Convenções Vasco Vasques. O evento reuniu cerca de 400 participantes, entre bispos, padres, religiosos, agentes da Pastoral da Comunicação (Pascom), leigos, pesquisadores e profissionais da comunicação para refletir sobre o tema: “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade justa”.  

O Regional Sul 2 da CNBB (Paraná) marcou presença expressiva, com mais de 25 participantes. Para Dom Amilton Manoel da Silva, bispo de Guarapuava, referencial da Pascom no Paraná e membro da Comissão Episcopal de Comunicação da CNBB, o Muticom sempre vai além de um encontro pastoral. “O evento tem um diferencial, porque abrangemos vários âmbitos da sociedade e trazemos também a dimensão cultural do lugar onde acontece. Por isso, este ano estamos em Manaus”, destacou. 

Segundo ele, a escolha da Amazônia como sede favorece reflexões urgentes: “O tema da Amazônia é muito importante para todos nós: celebração da Laudato Si, Campanha da Fraternidade, ecologia integral. Estamos unindo comunicação e cuidado com a Casa Comum”. Dom Amilton lembrou ainda que a comunicação deve estar sempre a serviço da vida: “São reflexões profundas, onde a comunicação faz chegar o cuidado, não só com o meio ambiente, mas especialmente com o ser humano”. 

“Deus se comunica também através das criaturas” 

A missa de abertura do Muticom foi presidida pelo arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, e concelebrada por dezenas de bispos e padres. Celebrada em um espaço decorado com a alma da Amazônia, a liturgia foi uma declaração sensível do compromisso que une fé, cultura e cuidado com a Casa Comum. Ali estavam símbolos, cores e texturas que comunicam os quem vive nas margens dos rios e caminha sobre a terra molhada da floresta. 

Na homilia, o cardeal Leonardo Steiner lembrou o fundamento último de toda comunicação: o próprio Deus. “O grande comunicador nos enviou um comunicador, Ele o comunicador do Reino de Deus, Ele o comunicador do amor de Deus”, afirmou. Para o cardeal, o trecho do Evangelho segundo Marcos é profundamente significativo por destacar que o anúncio deve ser feito “a toda criatura”, pois “toda obra criada é uma comunicação de Deus”, disse. “Todos os seres são comunicação de Deus, sinais do amor de Deus, visibilizações do amor de Deus, palpabilidade da presença de Deus”, enfatizou Steiner. 

Dom Leonardo conduziu a reflexão para a ecologia integral a partir de uma nova relação com a criação. “Tudo agora foi transformado em Cristo, tudo foi transfigurado em Cristo”, disse, destacando que a comunicação divina nos leva a perceber as criaturas como irmãs, na lógica de Francisco de Assis. “A ecologia integral não busca ser uma expressão qualquer, mas busca ser uma nova relação para podermos dizer e perceber que Deus se comunica também através das criaturas”, ponderou. 

Participantes do Paraná 

Entre os participantes paranaenses, Phernando Campos, da diocese de Paranavaí, viveu seu primeiro Muticom nacional. “Já havia participado do Encontro Nacional em 2024, mas aqui a dinâmica é outra: a vivência com temas técnicos e, ao mesmo tempo, profundamente humanos, como a Ecologia Integral, nos faz compreender de maneira clara que o nosso compromisso é manter sempre viva a essência pastoral. O ouvir é o primeiro sentido da comunicação e nos coloca em sintonia com a vida cristã.”, disse. Ele fez questão de ressaltar o espírito de comunhão do Regional Sul 2, agradecendo o empenho da coordenação. “Em especial, quero destacar a participação da Região Sul 2, que esteve em Manaus com agentes comprometidos, capazes de discernir e valorizar a importância da comunhão. Um agradecimento cheio de gratidão à nossa coordenação, na pessoa da Vanessa, que não mediu esforços para que estivéssemos presentes com toda a grandeza que já representa a nossa região”. 

Para Elen Gallo, de Maringá, o Muticom se revelou como um espaço de diálogo efetivo. “Como comunicadora católica, senti-me instigada a refletir sobre quais narrativas tenho veiculado e de que forma. Senti-me convidada a refletir que, como cristãos, se não falarmos, falarão por nós, com o perigo da manipulação de narrativas. Como cristã, ainda, fui lembrada de que precisamos pautar nossa comunicação no bem viver (e não só no viver bem) e no esforço em preservar a casa comum, o que é desafiador, mas possível, já que somos peregrinos de esperança”, observou. 

Vanessa Paula, coordenadora da Pascom no Regional Sul 2, destacou a experiência cultural e espiritual vivida em Manaus. “Conhecemos um pouco da beleza e também dos desafios da região. Isso nos provoca a refletir sobre o que nossa comunicação tem feito para contribuir com a ecologia e com o bem-estar do próximo. Mesmo distantes, podemos fazer a diferença, porque comunicar é viver a missão do anúncio de Jesus Cristo, que nos ensina o amor que vai além do comodismo”, afirmou. 

A programação do Muticom incluiu painéis, oficinas, laboratórios e momentos culturais, todos em sintonia com a realidade amazônica. Para Dom Amilton, a experiência foi enriquecedora: “Tivemos momentos especiais de aprofundamento dentro da realidade de cada participante. É um chamado a olhar com mais carinho e atenção para a Casa Comum”. 

Encontro das águas sela compromisso do Muticom com uma comunicação transformadora 

 O 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom) foi encerrado na manhã do domingo, 28 de setembro, no cenário grandioso da confluência dos rios Negro e Solimões, em Manaus (AM).  

A cerimônia de encerramento foi realizada a bordo de uma balsa, com capacidade de acomodar os mais de 300 participantes que saíram do Porto dos Pescadores rumo ao Encontro das Águas, o espetáculo natural onde as correntes de cores e temperaturas distintas dos rios correm lado a lado sem se misturar. A travessia da balsa serviu como uma metáfora para os participantes: a busca por uma comunicação transformadora que, como a união dos rios, deve gerar esperança na comunicação transformadora e comprometida com a Ecologia Integral. 

A bordo, a emoção foi embalada pela poesia do poeta amazonense Chico da Silva. Artistas das comunidades como Brito, Beto, Suzana e Magno, das paróquias Nossa Senhora de Nazaré e Auxiliadora entoaram a canção “Amazonas Meu Amor”, enquanto a alegria era palpável nos rostos e olhares que contemplavam a beleza do rio. O som das músicas do poeta e as toadas dos bois Garantido e Caprichoso animaram a todos, até o encontro das águas. 

Durante a cerimônia, o cardeal Steiner convidou todos os presentes a assumirem um compromisso com uma comunicação transformadora e com a Igreja de Jesus. 

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Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB, reforçou que, mais do que um ponto final, o evento representa um recomeço. “Estamos já, como disse o nosso arcebispo, terminando este encontro, mas retomando a missão.” Segundo ele, a Comissão preparou uma mensagem especial para marcar esse momento de envio e que foi lida pelos assessores da comissão, Pe. Tiago e Osnilda Lima, a mensagem, voltada a todos os comunicadores e comunicadoras do Brasil, foi pensada especialmente para os participantes presentes no Muticom, mas também para todos os comunicadores e comunicadoras do Brasil. 

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A mensagem final do 14º Muticom, expressa o compromisso assumido por comunicadores e comunicadoras de todo o Brasil diante do desafio de unir comunicação e ecologia integral. O texto ressalta que a experiência no solo amazônico foi um verdadeiro encontro em torno de Jesus Cristo, o “comunicador por excelência do Pai”, promovendo unidade na diversidade. 

Às vésperas da COP 30 e celebrando os 10 anos da encíclica Laudato Si’, a carta reforça que comunicar a partir do “Evangelho da Criação” é uma resposta urgente à crise socioambiental. O texto também destaca que ouvir o clamor dos povos da Amazônia, que é o clamor de toda a humanidade, deve inspirar os comunicadores a fazerem ecoar a Boa-nova com esperança e coragem, em todos os meios, sejam analógicos ou digitais. A mensagem se encerra com uma prece para que Maria, Mãe da Amazônia, e São Francisco de Assis inspirem a construção de um mundo justo, fraterno e sustentável. 

Jorge Teles – Jornalista da diocese de Guarapuava
Com informações do site do MUTICOM 2025