“A primeira leitura, retirada do Livro do Eclesiastes (3,1-11), fala do mistério do tempo e o chamado à missão, nos recorda da sabedoria divina sobre o tempo: ‘Tudo tem o seu tempo, há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu’. Este texto nos lembra que há um tempo para semear e um tempo para colher, um tempo para construir e um tempo para derrubar. Esse ritmo é refletido também na vida da Igreja e na missão do bispo. O Santo Pálio é colocado sobre os ombros do bispo para lembrar que sua missão é tanto semear, como colher, tanto consolar, como corrigir. Ele é chamado a discernir o tempo certo para cada ação, conduzindo o povo de Deus com sabedoria e prudência”, assim começou dom José Mário Scalon Angonese, arcebispo de Cascavel, a reflexão durante a homília na última sexta-feira, 27 de setembro, dia em que recebeu a imposição do Pálio.
A solene celebração, com a presença do Núncio Apostólico, Dom Giambattista Diquattro, representante do Papa Francisco no Brasil, assim como a de bispos da Província Eclesiástica de Cascavel, do clero arquidiocesano, foi repleta de emoção e mística. Mais de 2.500 fiéis estiveram presentes, testemunhando a unidade da Igreja local com o Papa.

Durante sua fala inicial, na imposição da insígnia episcopal, o Núncio Apostólico agradeceu a Dom Adelar Baruffi, arcebispo emérito de Cascavel, a Dom Paulo Antônio de Conto, bispo emérito de Montenegro (RS) e que atuou como administrador apostólico por alguns meses, e a Dom Aparecido Donizeti de Souza, bispo auxiliar, pelo pastoreio até o momento. “Dom Adelar, obrigado por ter estado à frente desta arquidiocese, enquanto a saúde permitiu, e por ter oferecido o sacrifício de entregar esse ministério pelo bem do santo povo de Deus. Cascavel é a sua família […] Dom Paulo, obrigado por ter oferecido a essa arquidiocese a força dos seus numerosos e joviais anos. Esta arquidiocese permanece em seu coração, assim para Cascavel, no coração dos fiéis permanece a sua presença […] Obrigado estimado dom Donizeti, continue assumindo seu compromisso pastoral que o Papa Francisco lhe confiou”, salientou.
Prosseguiu Dom Giambattista, “Dom José, obrigado por ter aceitado este novo serviço, deixando a família eclesial à qual se dedicou com empenho e a alegria do episcopado, para estar aqui apenas para servir e juntos realizar a vontade de Deus e da Igreja. O Pálio nos lembra do jugo sagrado de Cristo; é um jugo suave, mas também exigente. Cristo se fez cordeiro por amor a nós. Nós, pastores do rebanho de Cristo, também devemos carregar conosco os cordeiros, e, se necessário, em nossos ombros, levando-os diretamente para Cristo.”
Imposição do Pálio
Diante do Núncio Apostólico, com os joelhos ao chão, dom José Mário prometeu fidelidade a Deus, à Igreja Católica e aos fiéis. “Prometo conservar sempre a comunhão com a Igreja católica, quer em palavras por mim proferidas, quer em meu procedimento. Com grande diligência e fidelidade desempenharei os ofícios, pelos quais estou ligado em função da Igreja, tanto universal, como particular, na qual, conforme as normas do direito, sou chamado a exercer meu ofício […] Hei de seguir e promover a disciplina comum de toda a Igreja, e acatar a observância de todas as leis eclesiásticas, sobretudo aquelas que estão contidas no Código de Direito Canônico. Com obediência cristã seguirei o que declaram os sagrados Pastores, como autênticos doutores e mestres da fé ou o que estabelecem como orientadores da Igreja, e manifestarei a Comunhão com o Santo Padre e com o colégio dos bispos, a fim de que a ação apostólica, a ser exercida em nome e por mandato da Igreja, se realize em comunhão com a mesma Igreja”, concluiu o juramento. Em seguida, Dom Giambattista realizou a imposição do Pálio sobre seus ombros.
O Pálio, derivado do latim pallium, que significa “manto de lã”, é uma vestimenta litúrgica usada na Igreja Católica. Ele consiste em uma faixa de pano de lã branca que é colocada sobre os ombros dos arcebispos. Este pano representa a ovelha que o pastor carrega nos ombros, assim como Cristo fez com a ovelha perdida. Desta forma, podemos dizer que o pálio é o símbolo da missão pastoral do bispo. Além disso, o pálio é destinado aos arcebispos metropolitanos, simbolizando a jurisdição em comunhão com a Santa Sé.
O pálio, em sua forma atual, é uma faixa estreita de tecido com cerca de cinco centímetros de largura, tecida em lã branca. Ele é curvado no meio para repousar sobre os ombros, acima da casula, e possui duas abas pretas penduradas na frente e atrás. Visto tanto na frente quanto atrás, a vestimenta lembra a letra “Y”.
O pálio é decorado com seis cruzes negras de seda, que lembram as feridas de Cristo: uma em cada cauda e quatro na curvatura. Além disso, ele é cortado na frente e atrás, com três alfinetes de gema acicular em forma de alfinete. Essas duas últimas características parecem ser uma lembrança dos tempos em que o pálio era um simples lenço duplo dobrado e pregado com um alfinete no ombro esquerdo.
Sobre dom José Mário Scalon Angonese
Em 02 de maio deste ano, dom José Mário foi nomeado pelo Papa Francisco como arcebispo da Arquidiocese de Cascavel. Ao assumir a missão, alterou seu lema episcopal para “SERVIR POR AMOR”, que se baseou nas instruções de Jesus sobre a identidade e a missão da comunidade dos seus discípulos, que seguem sendo atuais. A partir destas orientações nasceu a comunidade da Nova Aliança, fundamentada no serviço (cf. Jo 13,1-17) e no amor (cf. Jo 13,33-35). Destas orientações surgiu o meu lema, no contexto do “Lava-pés” e do Novo Mandamento: “Servir por amor”.
Tomou posse como arcebispo da Arquidiocese de Cascavel no dia 09 de junho de 2024, em celebração solene realizada na Catedral Nossa Senhora Aparecida.
Alice de Oliveira – Jornalista da Arquidiocese de Cascavel