Guarapuava viveu, nos dias 20 e 21 de outubro de 2025, uma cena diferente, mas carregada de significado e emoção. Motores antigos roncaram ao som da fraternidade sacerdotal. O evento marcou o 1º Encontro do Clube Eclesiástico de Carros Antigos (CECA) — uma iniciativa nascida do diálogo entre o padre Valdecir Badzinski, secretário executivo do Regional Sul 2 da CNBB, e o bispo auxiliar de Curitiba, dom Adenis Roberto de Oliveira. Confira a reportagem em vídeo:

Tudo começou meses antes, durante a Assembleia dos Bispos do Paraná, realizada em Arapongas, de 8 a 12 de fevereiro deste ano. Entre reflexões pastorais e momentos de convivência, um assunto inesperado veio à tona: a paixão por carros antigos. “O clube é interessante para proporcionar uma oportunidade ímpar a conectar padres apaixonados por carros antigos e pela Igreja”, explicou o padre Valdecir Badzinski. “Carros estes que recordam as marcas históricas da evangelização da sociedade paranaense, desde a capital até as barrancas e penhascos dos rios”, completou.

O encontro reuniu proprietários de 11 veículos, vindos de várias regiões do Estado: das dioceses de Foz do Iguaçu, Toledo, Paranavaí, além da arquidiocese de Curitiba e da diocese anfitriã, Guarapuava. Entre Fuscas, Veraneios, Kombi, Gol, Corcel II, Fiesta e uma reluzente Pick-up F75 amarela, os participantes trouxeram não apenas relíquias sobre rodas, mas também histórias, lembranças e testemunhos de fé.

Dom Adenis relembrou com humor o início da ideia: “Conversando com o padre Valdecir, ele também tinha um carro antigo, eu com um antigo, daí começamos a conversar. Lembramos que vários padres tinham carros antigos e decidimos convidar esse pessoal, vamos nos unir e apresentar esse hobby. É uma ideia inusitada, mas nem tanto, porque os padres também são gente, de carne e osso, e temos gostos semelhantes com muitos.”

A viagem dos participantes foi um capítulo à parte. De Foz do Iguaçu, o padre Valdeni Costa de Jesus viajou quase 400 km com seu Fusca 1985, carinhosamente chamado de Esmeraldo. “Foi minha primeira grande viagem com ele.  388 km de Foz a Guarapuava. Vim com medo, mas graças a Deus, nenhum imprevisto, nenhum”, contou, aliviado.

De Toledo, o padre Mauro Cassimiro veio dirigindo sua Kombi: “Eu queria comprar um Fusca, não deu certo. Certo dia um padre de uma paróquia da nossa cidade colocou à venda sua Kombi e eu acabei comprando. É um investimento e também proporciona a participação em nossos encontros. Uso a Kombi principalmente na terça-feira que é o dia de folga dos padres na diocese, então eu ando com ela um pouquinho, pequenas distâncias. Sobre a vinda de Toledo à Guarapuava graças a Deus viemos muito bem, eu vim de Kombi e vieram mais dois padres com Fuscas. Viagem muito tranquila”.

De Curitiba, vieram o padre Carlos Luiz Bacheladenski, com seu Gol 1993, e o padre André Bienarski, com seu Fiesta ano 2000. O Gol do padre Carlos foi herdado de seu pai: “Meu carro é um carro de família, do meu pai, e quando ele foi se desfazer ele doou para mim. Ele é ano 93, um Gol conservado de família e foi muito importante para eu poder participar deste momento aqui. Saímos de Curitiba bem de manhã, o tempo nos ajudou a fazer uma ótima viagem e chegamos, sempre contemplando a paisagem do caminho, um trânsito tranquilo além da fraternidade com os padres que seguimos de lá na comitiva”.

Padre André disse que seu Fiesta, ano 2000, roda muito bem com ele há 25 anos: “Comprei no ano 2000, ano em que foi fabricado, portanto, está com 25 anos. Desde o início fiquei com ele por ele ser um carro econômico, fácil de trânsito. Valeu muito, eu fiz muitas viagens, inclusive meu período de formação. Depois de padre, foi muito importante, viajando para Maringá, depois dando os cursos de catequese, enfim, ele fez muitas viagens e me ajudou muito na experiência da vida. E estou lá em Curitiba, agora fui formador no seminário, muitos anos, e agora estou na paróquia Nossa Senhora Aparecida e vim de lá para fazer também uma experiência com os outros padres. Além do carro, a confraternização, o encontro, a troca de experiências, enfim, fazer tudo aquilo que é necessário para o crescimento e também para a fraternidade”.

Dom Adenis, por sua vez, compartilhou as aventuras com seu Fusca 1986, comprado em Minas Gerais: “Comprei Minas Gerais, tentei vir pra Curitiba com ele, fundiu o motor, aí tive que fazer de novo o motor. Não sei dizer quantos proprietários o Fusca já teve”.

Dom Adenis falou também sobre a viagem de Curitiba até Guarapuava, local do encontro: “Foi muito tranquilo, viemos em comboio, 5 carros antigos, todos juntos, devagar, respeitando as leis de trânsito, porque isso é importante, sem exagerar, tanto porque os carros não permitem. Viemos tranquilo, foi muito boa a viagem. Sem nenhum problema mecânico.”

Recordações sobre quatro rodas

O bispo emérito de Guarapuava, Dom Antônio Wagner da Silva, também prestigiou o evento e reviveu suas próprias memórias automobilísticas: “Nossa alegria no tempo de seminário era uma Veraneio verde oliva que nós usamos durante muito tempo, enquanto a gasolina era mais barata [risos]. Um carro excepcional para todos os trabalhos, para todas as viagens. A gente tinha um ‘pé de boi’ que era realmente útil e era realmente um carro especialíssimo que nós herdamos em algum momento. Nos serviu durante uns cinco, seis anos. Valeu a pena. Carro capaz, forte e que não tinha tempo ruim para ele no nosso trabalho no seminário em Curitiba. A Veraneio, um fusca, um fuscão e estava feita a vida. Então a gente lembra com muita alegria, com muita satisfação toda essa realidade que nos envolveu naquele tempo desde 1972 no seminário de Sagrado Coração, Instituto Deonista, em Curitiba, Vila  Hauer.”

Mais do que uma reunião de apaixonados por carros, o encontro revelou uma nova forma de evangelização e convivência. Para muitos, os carros antigos são mais que máquinas: são símbolos de histórias, de fé e de perseverança. Muitos desses veículos, no passado, serviram para levar padres às comunidades rurais, para missas, visitas e celebrações — verdadeiros instrumentos da missão evangelizadora.

Padres e a importância da fraternidade

O padre Valdecir ressaltou que o CECA foi criado com o propósito de fortalecer ainda mais a união entre os padres. Ele chegou a sugerir que o encontro fosse alinhado ao tradicional torneio anual do clero, consolidando-se assim como uma tradição marcada pela convivência fraterna e saudável. Segundo ele, assim como os carros antigos precisam de revisão periódica, os padres também necessitam revisar e fortalecer o coração

Esses momentos de lazer e amizade são fundamentais na vida sacerdotal. Em meio às exigências do ministério — o atendimento aos fiéis, o trabalho pastoral, a escuta e a oração —, os padres também necessitam de espaços de descanso e partilha, onde possam rir, conversar e simplesmente ser irmãos.

O ronco dos motores, o cheiro de gasolina e o brilho das latarias antigas deram o tom nostálgico e humano deste encontro. No fundo, mais do que carros, o que se celebrou foi a beleza da simplicidade, da amizade e da fé que se renova até nas curvas do caminho.

 

Texto: Jorge Teles – Jornalista da Diocese de Guarapuava | Fotos: Maurício Toczek – Diocese de Guarapuava | Edição de vídeo: Karina de Carvalho Nadal – Jornalista da CNBB Sul 2

 

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