Em 19 de julho de 2025, o Painel 2 da Pré-COP Sul abordou “O papel da Igreja na macrorregião sul: profetismo diante da crise socioambiental: por meio de uma abordagem interdisciplinar”. O Professor Telmo Vieira, do Movimento Laudato Si’ no Regional Sul 4 da CNBB, e Frei Olávio José Dotto, OFM, da coordenação da Pré-COP Sul, apresentaram dados sobre os impactos das mudanças climáticas em biomas locais e suas consequências para populações e comunidades, além das respostas a partir do ensino social da Igreja a esses desafios.

Professor Telmo Pedro Vieira

O Professor Telmo Vieira trouxe as raízes da crise em quatro pilares: excesso de antropocentrismo, cultura do descartável, modelo capitalista de desenvolvimento, e paradigma tecnocrático globalizado. Ele detalhou os impactos na Região Sul do Brasil, citando ameaças à Mata Atlântica e ao Pampa. Vieira também destacou consequências como desmatamento, poluição da água, mineração, produção agropecuária, uso de agrotóxicos, gentrificação, especulação imobiliária, suinocultura, monoculturas e saneamento básico. Os efeitos incluem enchentes, ondas de calor, perda de biodiversidade, poluição dos oceanos, estiagem, deslizamentos e impactos nos povos originários e comunidades tradicionais.

Como caminho para reverter a situação, o Professor Vieira apresentou o conceito de Ecologia Integral, a partir da visão do Papa Francisco. Segundo o Papa, a Ecologia Integral abrange as dimensões ambiental, econômica, social, cultural e da vida cotidiana. É um pensamento que reconhece que “tudo está conectado”. O Papa Francisco enfatiza que “tudo está interligado, como se fôssemos um só corpo”. Ele aponta o excesso de antropocentrismo e o paradigma tecnocrático como raízes da crise ecológica. O excesso de antropocentrismo gera “degradação ambiental e degradação social”. A tecnologia, embora não seja um mal, representa perigo quando concentrada, dominando a economia e a política e ignorando valores. A Ecologia Integral é um caminho para “conversão ecológica”, sustentada pela convicção de que “sem justiça climática, não há paz; sem conversão ecológica, não há futuro; sem escuta dos povos, não há soluções reais”. A Casa Comum tem sido maltratada, e a preocupação ambiental possui uma dimensão espiritual e teológica.

Frei Olávio Dotto | Foto: João Vitor Quartiero

Frei Olávio Dotto traçou a evolução da preocupação da Igreja com a ecologia por meio da Doutrina Social da Igreja (DSI). Documentos papais como Mater et Magistra (João XXIII, 1961), Populorum Progressio (Paulo VI, 1967), Octogesima Adveniens (Paulo VI, 1971), Redemptor hominis (João Paulo II, 1979) – que cunhou a “conversão ecológica” –, e Caritas in Veritate (Bento XVI, 2009) mostram um alerta crescente sobre a crise ecológica. O Papa Francisco intensificou esta resposta com a encíclica Laudato Si’, que destaca a interconexão das crises ecológica, social e econômica, e a Laudate Deum (2023), que critica o negacionismo climático e reafirma a origem humana do aquecimento global, apelando à corresponsabilidade. Ele enfatizou que a Igreja no Brasil tem atuado com Campanhas da Fraternidade, mobilização social e defesa de políticas públicas.

Frei Dotto ressaltou que a Igreja promove conscientização e educação, adota práticas sustentáveis, defende a justiça socioambiental para os mais vulneráveis a desastres climáticos, e engaja-se politicamente. Segundo ele, o objetivo é inspirar ações responsáveis e sustentáveis, pois o mundo se aproxima de um ponto de ruptura, e cuidar da Casa Comum é um compromisso de todos.

Por fim, os participantes contribuíram com reflexões e perguntas aos painelistas, aprofundando os temas como a interação com tecnologias sociais, a popularização do debate climático, o conceito de excesso de antropocentrismo, estratégias para divulgar a Doutrina Social da Igreja, se é possível a humanização do capital, a transformação do sistema capital, a adaptação da pedagogia e métodos eclesiais para a conversão ecológica, e o aprofundamento da dimensão social da fé.

Matéria: Osnilda Lima | Foto: Jaison Alves da Silva | Ascom Pré-Cop Sul
Fonte: CNBB Sul 4

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