À medida que o mundo se aproxima da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), a Igreja Católica no Brasil intensifica sua mobilização para participar ativamente dos debates e decisões sobre o futuro do planeta. Em um contexto global alarmante, com o avanço acelerado do aquecimento global e o agravamento da crise climática, a presença da Igreja busca ser sinal profético e voz em defesa dos pobres e da criação.
Inspirada pela encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) estruturou um plano nacional de escuta, formação e incidência, com o objetivo de contribuir de forma concreta e ética com as discussões da COP30.
No artigo abaixo, o professor Telmo Pedro Vieira, membro do grupo “Igreja Rumo à COP30”, apresenta os desafios, metas e o papel que a Igreja brasileira pretende assumir nesse encontro internacional decisivo.
IGREJA RUMO À COP30
Prof. Dr. Telmo Pedro Vieira – MLS
A realização da COP30 no Brasil, neste momento de agravamento da crise climática, onde indicadores ambientais demonstram que estamos nos aproximando rapidamente do colapso ambiental provocado pelo aumento das temperaturas, atribui à Conferência uma responsabilidade histórica nas decisões a serem assumidas pelos países participantes.
Em 2024, vivenciamos um aquecimento médio global (superficial, terrestres e marítimos combinados), de 1,55º C acima do chamado período pré-industrial (1760-1840). Trata-se de um aquecimento sem precedentes na história das civilizações humanas e, provavelmente, nos últimos 125 mil anos. Em 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) admitiu: “A extensão e magnitude dos impactos das mudanças climáticas são maiores do que as estimadas nas avaliações anteriores”. A aceleração do aquecimento é inequívoca. Levamos quase um século (1920–2015) para alcançar 1ºC acima do período pré-industrial. No entanto, em apenas 10 anos (2025-2024) atingimos 1,55ºC, com um salto de 0,4ºC nos últimos dois anos.
Apesar da urgência por mudanças profundas, as últimas COPs demonstram que as negociações governamentais estão infinitamente aquém das soluções necessárias para enfrentar as causas do aquecimento. As decisões carecem de mecanismos que garantam sua efetiva implementação, e as NDCs (Metas Nacionalmente Determinadas, sigla em inglês) dos países, inclusive do Brasil, estão longe do que seriam as medidas necessárias para alterar o perigoso percurso que estamos seguindo até aqui.
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP) é uma das maiores reuniões internacionais do mundo e representa o principal fórum global para discussão multilateral de questões da mudança do clima.
A COP30, que será realizada em Belém (PA), no coração da Amazônia, em novembro de 2025, representa uma oportunidade histórica para a Igreja amplificar as vozes das comunidades mais vulnerabilizadas e influenciar as decisões globais sobre a crise socioambiental. Inspirada na Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, a CNBB, por meio do grupo de articulação para a COP30, busca fortalecer a presença da Igreja no debate ambiental e impulsionar a mobilização em defesa da Casa Comum.
Trata-se de um momento chave para que os católicos do mundo todo se unam em defesa do planeta, cobrando dos governos a adotarem compromissos mais fortes e justos no âmbito do Acordo Climático de Paris.
O que são as COPs?
As COPs ou Conferência das Partes, partes aqui entendidas como países e territórios, são o órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que reúne anualmente os países em conferências mundiais. Suas decisões, coletivas e consensuais, só podem ser tomadas se forem aceitas unanimemente pelas Partes (países e territórios), sendo soberanas e valendo para todos os países signatários.
A origem das COPs
A Conferência das Partes teve origem no contexto de uma das mais importantes reuniões sobre o clima realizadas no século passado: a ECO-92, sediada na cidade do Rio de Janeiro. Um dos principais frutos desse encontro foi o tratado de criação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
A convenção entrou em vigor em 1994, e a primeira COP ocorreu na capital alemã, Berlim, em 1995. Desde então, as reuniões ocorrem anualmente (exceto quando decididas de forma diferente pelas Partes).
Quem Participa das COPs?
Os participantes são todos os representantes dos países e territórios que são signatários da UNFCCC. Portanto, a COP conta anualmente com a participação de 198 territórios, incluindo os 193 países membros da ONU e mais cinco territórios reconhecidos.
Aqui é importante salientar que a partir de 2022, a Igreja Católica passou a participar não mais como observadora, mas como signatária com direito a voto. Por iniciativa do Papa Francisco.
O papel da Igreja nas COPs
A Igreja, comunidade dos discípulos missionários de Jesus, é também espaço de escuta, formação e articulação, onde o Evangelho se concretiza em práticas de cuidado com a terra, com os pobres e com as futuras gerações.
Comunidades, pastorais, movimentos, organismos, conselhos paroquiais, juventudes, religiosas e religiosos, padres e bispos são chamados a serem sementes de esperança em tempos de crise climática, assumindo com coragem o papel profético e político na construção de um novo modelo de sociedade, como verdadeiros guardiões da Casa Comum, que reivindicam seu lugar na tomada de decisões e oferecem contribuições justas e transformadoras.
A ação da Igreja do Brasil rumo à COP30
A caminho da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025, a Igreja Católica no Brasil realiza um amplo processo de escuta, formação e articulação em defesa da Casa Comum. Inspirada pela Encíclica Laudato Si’ e pela proposta sinodal do Papa Francisco, a Igreja quer ser presença profética no evento e contribuir com propostas concretas para a superação da crise socioambiental.
Para isso a CNBB criou o grupo “Articulação Igreja Rumo à COP30” reunindo dioceses, pastorais sociais e organizações da missão socioambiental da Igreja. Com atenção especial aos biomas brasileiros, especialmente a Amazônia, e às comunidades mais vulneráveis, a iniciativa visa fortalecer o compromisso com a Ecologia Integral, formar lideranças e influenciar políticas públicas em defesa da justiça climática.
Etapas formativas: Preparar, Semear e Cultivar
Um dos pilares da atuação da Igreja é o processo formativo pré-COP30, que visa capacitar lideranças como multiplicadoras de conhecimento e mobilização em seus territórios. Esse percurso é estruturado em três etapas: Preparar, Semear e Cultivar.
Na etapa “Preparar”, estão sendo realizadas rodas de conversa com o tema “Igreja Rumo à COP30: instrumentos de Deus no cuidado da Casa Comum“, promovendo a mobilização e o diagnóstico das realidades locais. Em seguida, a fase “Semear” contempla encontros formativos regionais nas cinco macrorregiões do Brasil, com painéis e debates previstos até agosto de 2025, nas cidades de Belém (PA), Juazeiro (BA), Governador Celso Ramos (SC), Belo Horizonte (MG) e Bonito (MS). Por fim, na etapa “Cultivar”, as lideranças continuarão recebendo apoio para replicar ações concretas em suas comunidades, inspiradas no “Guia para Multiplicadores da Ecologia Integral”.
Expectativas e compromissos da Igreja na COP30
A Igreja chega à COP30 com metas claras, fundamentadas na Doutrina Social e em princípios inegociáveis, como a defesa da vida, da dignidade humana e da integridade da criação. Dentre suas principais bandeiras estão:
Proteção dos territórios e dos povos tradicionais, com respeito à sua soberania, cultura e papel na preservação ambiental;
Promoção da justiça climática com responsabilidades diferenciadas, reconhecendo a dívida ecológica histórica dos países mais poluidores;
Rejeição da financeirização da natureza, criticando a lógica de mercado que transforma bens comuns em mercadorias;
Superação do modelo econômico vigente, com a construção de uma economia solidária, sustentável e centrada na dignidade humana e no bem viver;
Combate ao desmatamento, com a meta de desmatamento zero até 2030;
Garantia de políticas públicas de prevenção e proteção, que tragam segurança para as cidades e populações vulneráveis;
Centralidade da dignidade humana e dos direitos da Terra nas decisões climáticas.
As pré-COPs da Igreja: formação e incidência
As Pré-COPs são encontros formativos voltados às lideranças e multiplicadores da Igreja, com o objetivo de aprofundar a compreensão sobre as mudanças climáticas e suas consequências sociais, econômicas e ambientais. Com uma metodologia participativa, esses encontros preparam agentes para replicar o conhecimento em suas comunidades, fortalecendo a atuação da Igreja na defesa da Casa Comum e incentivando ações concretas em favor da justiça climática e da ecologia integral.
Todo o processo é coordenado pelos (as) secretários (as) executivos(as) dos Regionais da CNBB, em parceria com a Secretaria Executiva da Articulação Igreja Rumo à COP30.
Agenda das Pré-COPs por macrorregião
Norte – 25 e 26 de março | Belém (PA)
Nordeste – 11 e 12 de julho | Juazeiro (BA)
Sul – 18 a 20 de julho | Governador Celso Ramos (SC)
Leste – 25 a 27 de julho | Belo Horizonte (MG)
Centro-Oeste – 6 de agosto | Bonito (MS)
Laudato Si’ e a Presidência da COP30 no Brasil
A Laudato Si’ foi assumida como documento de referência da COP30 no âmbito do “Círculo do Balanço Ético Global”, que tem por missão elevar a consciência global por meio de diálogos inclusivos em diversas regiões, reunindo líderes políticos, intelectuais, acadêmicos, culturais e religiosos, além de vozes de todos os setores da sociedade.
O apelo da carta da Presidência da COP30, publicada em 8 de maio de 2025 é direto e urgente: “precisamos transformar esperança em ação concreta”. Para o presidente da Conferência, o embaixador André Aranha Corrêa do Lago a Laudato Si’ representa “uma bússola ética e um guia pragmático para essa mobilização global” em defesa da Casa Comum.
Conclusão: Fé e ação pela Casa Comum
A COP30 é uma oportunidade histórica para unir fé e ação concreta em defesa do planeta. Mais que participar de um evento global, a Igreja quer ser sinal de esperança, semente de transformação e voz profética por uma nova forma de habitar a Terra.
Que este caminho Rumo à COP30 fortaleça o compromisso com a Casa Comum e inspire novos horizontes de solidariedade, paz e justiça socioambiental.
No vídeo abaixo, conheça a identidade visual da Igreja rumo à COP 30: Articulação por Ecologia Integral e Justiça Climática.