Quinze padres de diferentes dioceses do Paraná estão reunidos no Centro Diocesano de Formação, em Umuarama (PR), desde o dia 8 de julho, participando da 6ª edição da Formação Integral para Presbíteros (FIP). O encontro segue até o dia 22 de julho.
A FIP é uma proposta da Comissão Regional de Presbíteros do Paraná (CRP-PR), destinada a padres com mais de 10 anos de ministério presbiteral, que desejam viver um momento em revitalização em sua vida e vocação. Para isso, a FIP proporciona que o padre se retire, por um período ininterrupto de 15 dias, de suas atividades eclesiais para cuidar de si mesmo integralmente: no âmbito humano, espiritual, comunitário, intelectual e apostólico.
Segundo o presidente da CRP-PR, padre Edson Zamiro da Silva, o grupo deste ano é muito coeso, maduro e consciente sobre a proposta da FIP. “É um grupo que está procurando realmente mergulhar na formação integral. Parece-me que estão, paulatinamente, tomando consciência da importância dessa formação que visa levar presbítero a tomar consciência da importância do cuidado consigo mesmo em todas as dimensões da vida”, afirmou.
Baseado na exortação apostólica pós-sinodal, do Papa João Paulo II, Pastores Dabo Vobis, durante os 15 dias, os padres dedicam-se a cuidar da saúde física e psíquica, por meio de uma alimentação saudável, que incentiva a reeducação alimentar; de exercícios físicos, acompanhados por um educador; de exames básicos de saúde, e consultas com cardiologista, urologista, endocrinologista, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo.
“Durante os dias da FIP, as refeições são servidas em porções individuais diretamente à mesa. Primeiro é oferecido o prato de salada, seguido pelo prato principal quente. Também há opções de suco natural e suco verde. Toda a proposta alimentar é pensada para promover hábitos saudáveis, proporcionando aos participantes a oportunidade de perceber que uma alimentação equilibrada pode ser saborosa. Tudo depende da forma como é preparada”, relatou a nutricionista Simone Mazur, responsável pela alimentação nos dias da FIP.
O fisioterapeuta, Pierre Guimarães Ferrari, responsável pelos exercícios físicos, explicou que seu trabalho visa cuidar da parte da reabilitação funcional, ou seja, de recuperação do condicionamento físico. “Todos os dias fazemos a caminhada pela manhã. Depois temos mais uma atividade, que varia entre a hidroterapia, o pilates ou o treino funcional. São atividades que, às vezes, os padres relatam muito cansaço ou dores musculares. Porém, ali pelo quarto dia já ficam mais tranquilos, mais leves, mais flexíveis e até conseguem fazer a atividade física melhor”, afirmou Pierre.
Além do cuidado com a saúde, os padres dedicam-se à oração pessoal e comunitária; à atualização intelectual e pastoral; e ao aprofundamento dos fundamentos e o sentido da vocação.
No primeiro final de semana, dias 11 e 12 de julho, o tema de estudo foi a saúde mental e a síndrome de Bournout no clero, assessorado pelo padre Rosimar José de Lima Dias, da arquidiocese de Cuiabá (MT). Doutor em psicologia clínica, padre Rosimar, explicou sobre sua conferência: “Nós, às vezes, temos a ideia de que os padres não são humanos, que não adoecem. Porém, eles adoecem como qualquer pessoa. Sendo assim, precisam estar bem atentos aos sinais para que não cheguem ao adoecimento. E se chegar, ter a coragem e sabedoria de que pedir ajuda não é vergonha”.
Ele também presidiu a missa no sábado, dia 11, e refletiu sobre três dimensões fundamentais à vida espiritual e ministerial: reconciliação, sentido e confiança. Inspirando-se na história de José do Egito, destacou a importância de acolher e transformar as feridas do passado, sem negar a dor, mas permitindo que ela seja tocada pela graça.
“José nos mostra um outro caminho. Ele não reprime. Ele não se vinga. Ele se reconcilia com o que viveu e, com isso, também se reconcilia consigo mesmo. E é aí que começa a verdadeira cura”, disse o padre.
No Evangelho, recordou o encorajamento de Jesus: “Não tenhais medo”, como um convite à confiança profunda, especialmente nas crises interiores vividas no ministério. O padre sublinhou que não é a ausência de fadiga que cura, mas a presença do sentido, que se encontra em Cristo.
Confira abaixo o vídeo da homilia:
Testemunho dos participantes
Padre Edinaldo Mendes Tonete, da diocese de Guarapuava (PR), disse que acolheu de imediato o convite para participar da FIP, pois percebeu ser uma oportunidade de aprender mais, de mudar um pouco o ritmo, de descansar um pouco da rotina paroquial e de se ocupar com a própria formação.
“Para mim, este encontro está sendo muito oportuno, pois estou revendo a maneira como estava vivendo e me disciplinando novamente. Com o passar do tempo, nós padres, vamos relaxando, vamos entrando num ritmo meio monótono, às vezes sedentário. E acabamos não comendo direito, não cuidando da própria saúde e talvez nem estudando mais. E aqui tem essa grande oportunidade de poder pensar em si mesmo, de rever as questões de saúde, as questões intelectuais e espirituais, além de poder também reencontrar-se consigo mesmo, que é o mais importante”, disse padre Edinaldo.
Com 11 anos de sacerdócio, padre Irineu Caus, da diocese de Palmas-Francisco Beltrão, contou que se inscreveu voluntariamente para a FIP, pois sabia do trabalho que é desenvolvido no cuidado presbiteral.
“Nesses dias aqui, tenho sido apresentado a uma rotina de momentos muito importantes e necessários para que a gente possa refletir, ressignificar muitas coisas, atualizar algumas questões em nós. É um tempo de respiro para poder cuidar bem de si, a fim de poder oferecer mais de si aos outros”, contou padre Irineu.
Para o padre Paulo Alencar, da arquidiocese de Londrina, que também tem 11 anos de sacerdócio, a FIP tem sido uma oportunidade de fazer uma pausa nas atividades paroquiais, a fim de renovar o ministério.
“A FIP está ajudando a me reabastecer, por meio do cuidado com a saúde física e mental, dos estudos, das partilhas, das orações. Isso vai ajudar a voltar para o próximo semestre com maior paixão pelo Reino de Deus e maior disposição para cuidar das pessoas. Eu desejo que muitos padres façam essa experiência, abram-se, tenham essa disponibilidade para melhorar a qualidade do seu ministério”, afirmou padre Paulo.
O padre Valdomiro Machado, da diocese de Umuarama, avaliou a participação na FIP como uma experiência incrível, que o conduz a questionar a forma como está vivendo seu ministério presbiteral.
“A ação é sempre do Espírito Santo, mas o humano, a pessoa, precisa estar integrada, vivendo bem consigo mesmo, com o mundo, com as pessoas ao redor, para que o ministério se torne mais eficaz. Esses dias têm sido muito oportunos para o cuidado espiritual, físico, mental, ajudando-me a reconectar-me comigo mesmo. Somente a partir disso, podemos conectar-se verdadeiramente com Deus e com a comunidade, o povo que Ele nos confia”, disse padre Machado.
Confira o vídeo sobre a FIP:
Karina de Carvalho Nadal – Jornalista da CNBB Sul 2