Entrevista com a coordenadora regional de catequese, Débora Pupo, avalia caminhada da Catequese, com os desafios e perspectivas pastorais neste tempo de pandemia
Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava que o mundo entrava numa pandemia, devido a contaminação pela Covid-19, causada pelo novo Coronavírus (SARS-Cov-2). Uma notícia que afetava a sociedade em todos os seus âmbitos, inclusive no religioso. De repente, o estar junto, próximo, mesmo que num pequeno grupo, se tornava um risco de vida. Diante disso, paróquias e comunidades em todo o mundo começaram a suspender suas atividades litúrgicas, pastorais e organizacionais, a fim de proteger e salvaguardar a vida.
No Paraná, a Pastoral Catequética iniciava as atividades do ano, quando precisou suspender os encontros e todas as atividades a ela relacionadas. Uma realidade totalmente nova que deixou, num primeiro momento, bispos, padres e catequistas estagnados, sem saber como agir. Hoje, após um ano em pandemia, percebe-se que passos foram dados e muito aprendizado foi adquirido.
A coordenadora regional da Animação Bíblico-Catequética no Paraná, Débora Pupo, concedeu uma entrevista analisando esse tempo pandêmico para a catequese. Para ela, a dimensão virtual não substitui o itinerário catequético presencial, mas trouxe muito aprendizado e inovações.
- Débora, em 2020 como foi a caminhada da Pastoral Catequética na Igreja do Paraná?
A maioria das dioceses segue na catequese o calendário escolar, sendo assim, em março de 2020, já haviam iniciado os encontros. No entanto, com a suspensão das aulas presencias nas escolas e universidades, os encontros catequéticos também foram suspensos. Num primeiro momento, todos ficamos estagnados, pois acreditava-se que essa realidade não se estenderia por muito tempo, quem sabe um mês, no máximo. Com o passar dos primeiros meses, começou a se perceber que as coisas não voltariam ao normal tão logo e começou a se pensar num trabalho remoto que, muito rapidamente, se chamou de catequese online. Mas, na verdade, era a tentativa de manter o vínculo com os catequizandos e suas famílias.
No segundo semestre de 2020, começaram as orientações das dioceses e cada uma começou a se organizar. Algumas enfatizaram no manter o vínculo, enviando reflexões, pequenas motivações e exercícios a serem feitos. Na Diocese de Palmas-Francisco Beltrão (PR), por exemplo, um grupo de catequistas gravava pequenos vídeos e enviava aos catequizandos. O projeto chamava-se “Jesus na minha casa”. Não se questionava se esse contato online substituiria o itinerário catequético. Mas lá por agosto, ficou definido que essas atividades não substituiriam os encontros presenciais e que, quando fosse possível retornar, se retomaria do ponto onde haviam parado.
2020 podemos dividir em dois momentos: no primeiro semestre a suspensão e expectativa de que logo se retornasse ao normal, e no segundo semestre, então, começaram as iniciativas de catequese virtual, mais organizado e sistematizado para a orientação dos encontros. Esse foi o resultado de uma solução emergencial em um momento crítico e totalmente novo, que nos trouxe muito aprendizado.
- Houve propostas para dar continuidade ao itinerário catequético, mesmo sem a possibilidade dos encontros?
Na Arquidiocese de Curitiba (PR), por exemplo, foram feitas duas propostas. A primeira de que os pais assumissem o papel de catequistas. Assim o/a catequista enviava para os pais ou responsáveis o que fazer, a meditação, a reflexão e o tema a ser desenvolvido e eles realizavam com os catequizandos, devolvendo um retorno para o/a catequista. Isso contaria como sequência do itinerário catequético. A segunda proposta era de manter apenas o vínculo e, quando voltar o presencial, se retomar do ponto onde parou. A grande maioria das comunidades optaram pela primeira proposta, de trabalhar com as famílias. Essa foi uma inspiração dada por uma paróquia da Diocese de Ponta Grossa (PR), que já fazia essa catequese familiar, muito antes da pandemia. No final do ano, vieram os questionamentos quanto a realização dos sacramentos e aí cada diocese tomou decisões segundo a sua realidade. Algumas não celebraram e outras se adaptaram, conforme a possibilidade de participação da comunidade.
- Como foi desenvolvido o trabalho da equipe regional de Catequese, quanto à formação?
Nosso trabalho foi completamente online. Tivemos um encontro em julho, que envolveu todos os coordenadores e assessores da catequese no Paraná. Depois, no mês novembro, dividimos as 18 arqui/dioceses em quatro grupos aleatórios, para uma noite de espiritualidade bíblica, com assessoria do padre Anderson Ulatoski, da diocese de Paranaguá (PR). Não foi um momento formativo enquanto estudo, mas formativo na dimensão da espiritualidade. Foi uma experiência muito boa, pois contou com a participação de representantes de todas as arqui/dioceses do Paraná para rezarmos juntos, foi uma leitura orante a distância.
Eu também assessorei muitos encontros online para as dioceses e paróquias. Houve um diferencial positivo nesse sentido, pois alcancei muitas paróquias, o que não era possível fazer presencialmente, devido ao deslocamento. Por exemplo, na Diocese de União da Vitória (PR), eu trabalhei com todos os setores pastorais durante um mês, todas as sextas-feiras. Graças a essa possibilidade do virtual, alcançamos mais de 500 catequistas.
- Você percebe que houve desistência e desânimo entre os catequistas?
Sim, desistências não podemos mensurar, mas desanimo sim. Eu acompanhei uma catequista de uma paróquia que me disse que havia ficado muito tempo afastada da catequese e havia voltado em 2020, toda empolgada, com uma turma da 3ª etapa da Eucaristia. Ela ficou muito desanimada por que planejava realizar o sacramento no final do ano e isso não foi possível. Também houve catequistas que enfrentaram a questão da doença e a morte de pessoas da família, além da pressão psicológica de todo contexto, de uma rotina totalmente mudada e as consequências econômicas.
Na formação dos catequistas foi priorizada a questão da animação, do encantamento, da espiritualidade, na tentativa de ajudar os catequistas a se reencantarem pela missão, sem muita cobrança. Optamos por realizar esse trabalho formativo na dimensão da gratuidade, sem obrigar ninguém a participar, exigindo presença. Nesse sentido, a pandemia nos ensinou a ser uma presença de gratuidade, proximidade, que acolhe, que anima, sem aquela cobrança exagerada e rígida.
- Quais as perspectivas para o ano de 2021?
Enquanto Regional Sul 2, na dimensão formativa, já decidimos que não haverá encontros presenciais. Estamos trabalhando num projeto de formação online para alcançar todas as dioceses e, na medida do possível, mais catequistas. Estamos avaliando a possibilidade de duas frentes de formação: uma voltada aos coordenadores e assessores diocesanos e outra mais ampla, voltada aos catequistas, que possa envolver também as famílias que desejarem participar. São todos projetos que contemplam a realidade virtual.
Quanto aos encontros catequéticos, em geral, as arqui/dioceses vão seguir as orientações das autoridades sanitárias quanto às aulas presenciais nas escolas e universidades. Quanto a isso, é preciso considerar uma questão: temos um grande número de catequistas que fazem parte do grupo de risco, com uma faixa etária elevada. Será preciso ter esse cuidado e atenção.
A função da equipe regional de catequese é na linha de reflexão. Chamar a atenção dos coordenadores para refletir sobre o que é essencial na catequese, o que é esse itinerário de fé, de crescimento, de aprofundamento da fé e do encontro pessoal com Jesus Cristo. Como, em tempo de pandemia, vamos garantir isso? Se vai ser presencial, remoto ou híbrido, ficará a cargo de cada diocese, na sua realidade, para decidir entre o bispo e seus padres.
- Desse contexto desafiador, surgiu alguma proposta inovadora para a catequese?
Ao suspender os encontros presenciais de catequese, buscou-se iniciativas para que o processo catequético não caísse no vazio. E uma ação logo se destacou: o envolvimento das famílias. O Diretório Nacional de Catequese nos lembra que “os pais recebem a graça e a responsabilidade de serem os primeiros catequistas de seus filhos”, por isso “mesmo diante dos desafios atuais da família, ela é chamada a dar os primeiros passos na educação da fé de seus filhos”. Ainda de acordo com o Diretório, a vida familiar é como um horizonte que dá direção ao nosso caminhar”.
Já o Papa Francisco, na exortação apostólica Amoris Laetitia, nos alerta que “a família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento e guia”. Sobre a educação na fé o Papa diz que “a educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé […] a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo”.
A Catequese sempre buscou dialogar com as famílias e conscientizá-las da necessidade de que acompanhassem o processo catequético das crianças, adolescentes e jovens. Porém, é preciso admitir, que nem sempre conseguimos envolver as famílias, e a Catequese sempre se ressentiu de um certo “abandono” de alguns pais, mães e responsáveis, que parecem não se envolver como deveriam.
Mais uma vez me vem à mente as palavras de Francisco, pois o Papa nos diz que “a transmissão da fé pressupõe que os pais vivam a experiência real de confiar em Deus, de procura-Lo, de precisar d’Ele”. Isso me leva a questionar: temos procurado oferecer às famílias momentos de espiritualidade? Será que o fato de elas parecerem ausentes não revela uma dificuldade de viver, em família, uma experiência de espiritualidade e encontro com Jesus de Nazaré?
A partir do momento que não era mais possível o encontro presencial entre catequistas e catequizandos descobrimos, ainda que às apalpadelas, um meio de aproximar as famílias da catequese e as experiências se tornaram as mais variadas possíveis, então a catequese saiu das “salas de encontro” e voltou para onde nunca deveria ter saído!
Bem sabemos que a Catequese é presença, é olho no olho, é contato! Mas não podemos minimizar a importância das iniciativas de tantos catequistas que não se deram por vencidos, nem ficaram parados esperado que tudo passasse. Acredito que tais iniciativas podem ser definidas como janelas de proximidade, momentos em que nos aproximamos para dizer: estamos com vocês para nutrir a fé e manter acessa a chama da esperança!
Percebo também que essa pandemia nos proporcionou abrir os olhos para uma realidade que estava diante de nós, que é a questão da cultura digital, das mídias, das redes sociais. Esse era um espaço que ainda não habitávamos e nem aproveitávamos e, de certa maneira, até olhávamos com muita desconfiança e negativismo, considerando que as tecnologias mais atrapalhavam que ajudavam. Nesse tempo, prestamos atenção a tantas possibilidades que não eram aproveitadas. Por outro lado, saltou aos olhos o nosso amadorismo diante disso, as dificuldades para se entender as linguagens digitais, até para conseguir participar das reuniões online. Para mim, o online não substitui o presencial, porém o complementa e, numa situação de pandemia, se tornou um instrumento valioso no trabalho evangelizador.
- Qual sua mensagem conclusiva para os catequistas?
Não deixemos passar em branco esse momento, mas atenção! É preciso cuidar para não sobrecarregar as famílias e as crianças. Não é tempo de exigências e de trabalhos extensos ou complicados, o que nos é pedido, enquanto catequistas, é que ajudemos a estimular nossos catequizandos e suas famílias a se manterem próximos a Jesus e cultivar a intimidade com Ele, por meio de momentos de espiritualidade e oração. Não nos preocupemos com datas e conteúdo, aproveitemos desse momento para ajudá-los a crescer na fé, na esperança e na caridade.
(Karina de Carvalho – Assessora de Comunicação da CNBB Sul 2)