Solidariedade dos trabalhadores rurais do MST leva alimento para a mesa de milhares de famílias carentes em todo o Paraná
Desde que a pandemia do novo Coronavírus chegou ao Paraná, em meados de março, a situação de pobreza e de precariedade que já existia ficou ainda mais acentuada. Atentos a essa realidade, agricultores de vários acampamentos e assentamentos do Movimento Sem Terra (MST), começaram a se mobilizar para partilhar o bem mais precioso que possuem: os alimentos produzidos nas terras em que vivem.
As ações fazem parte da campanha nacional de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com as populações mais afetadas pela crise econômica gerada pelo Covid 19. No Paraná, 7 mil famílias vivem em 70 acampamentos do MST e cerca de 25 deles enfrentam o risco do despejo. O estado tem 24 mil famílias assentadas, que moram em 369 assentamentos da reforma agrária.
Doações de alimentos realizadas pelo MST
Uma das primeiras ações solidárias aconteceu em 7 de abril, quando os acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro, e o pré-assentamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa, doaram 5 toneladas de alimentos orgânicos para famílias carentes de seus municípios.
Maria Bueno dos Santos, chamada carinhosamente de vó Maria, falou com satisfação sobre a ação de solidariedade organizada pela comunidade Padre Roque, onde ela vive: “Eu estou feliz de poder compartilhar com os que estão na cidade. Está sobrando aqui, então vamos dividir com os que estão precisando”, disse ela.

Dias depois, em 10 de abril, famílias de camponeses acampados e assentados na região Oeste do Paraná realizaram a doação de 2 toneladas de alimentos para os povos indígenas da etnia Guarani, moradores de reservas localizadas em Guaíra e Terra Roxa.

As doações de alimentos dos agricultores Sem Terra também chegaram à capital. No dia 11 de abril, 14 toneladas de alimentos foram doadas para quatro ocupações urbanas da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). As doações vieram de 370 famílias do acampamento Maila Sabrina, de Ortigueira (PR).

Moradores da região sul de Londrina também receberam a doação de 7,5 toneladas de alimentos do Assentamento Eli Vive, no dia 11 de abril. Mandioca, batata-doce, leite, chuchu, quiabo, abóbora, abacate, mamão, banana, arroz, fubá, e outras dezenas de variedades de alimentos estão entre os itens produzidos e doados pelos camponeses da comunidade.

Secretário-executivo da CNBB Sul 2 abençoou a doação de 50 toneladas de alimentos
No último sábado, 30 de maio, o secretário-executivo do Regional Sul 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Padre Valdecir Badzinski, esteve no assentamento Nova Geração, em Guarapuava, para realizar a bênção de cerca de 50 toneladas de alimentos, que foram doados a mais de 4 mil famílias das cidades de Guarapuava e Pinhão.

Os alimentos foram produzidos por agricultores Sem Terra de aproximadamente 30 comunidades rurais da região. Todos os produtos foram reunidos no assentamento Nova Geração e organizados em kits com cerca de 15 quilos cada.
O mutirão de preparação foi organizado pelos próprios agricultores, com uso de máscaras, álcool em gel e outras medidas de prevenção ao Coronavírus. Entre os produtos doados estão: feijão, arroz, quirera, fubá, farinha de milho, pinhão, erva-mate, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados de leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana, sabão caseiro.
O diretor estadual do MST do Paraná, Roberto Baggio, falou sobre a importância desse gesto dos agricultores: “Isso aqui só foi possível porque a terra foi repartida. Os trabalhadores cuidam da terra, da água, do rio, dos animais, das plantas, das sementes e, nesse cultivo da terra, cumprem uma missão nobre da agricultura, que é para produzir alimentos. Com isso, esse gesto de repartir o que tem, de ser solidários com os irmãos que estão sofrendo e precisam de comida, é um gesto digno dos agricultores e camponeses”.
Padre Valdecir Badzinski comentou a importância de mais esse gesto realizado pelos agricultores do MST: “Nesse momento de pandemia, vemos a dor estampada no rosto de pais, de mães, grupos e de comunidades. Aqui, a Igreja tem a missão ainda mais profunda de caminhar junto, pisar na mesma cadência dos nossos fiéis que são filhos da Igreja. Ver esse ato de solidariedade dos assentamentos é perceber o coração extremamente solidário desse povo que, mesmo com pouco, partilham, tiram daquilo que tem. Talvez não é a riqueza que a gente imagina, mas é o alimento, é a maior riqueza que um agricultor tem”.

Ações desse tipo foram realizadas ao longo de todo o mês de abril e maio, beneficiando famílias carentes de pequenas e grandes cidades do Paraná. Ao todo, os acampamentos e assentamentos do Paraná já doaram cerca de 155 toneladas de alimentos. Além disso, os agricultores produziram e doaram cerca de 400 máscaras de tecido e 2200 marmitas agroecológicas para a população em situação de rua de Curitiba.
(Por Karina de Carvalho, com informações do Portal MST e Central Cultura de Comunicação)